Acho que fiquei uns 3 ou 4 dias sem postar alguma coisa. Mais tenho alguns motivos pessoais para isto. Eu estava em um biblioteca lendo um livro, e nele tinha um conto muito interessante e achei que seria legal postar aqui, pois tem haver com nossa realidade, espero que vocês gostem, o nome do livro é "Para uma menina com uma Flor", eu admito até que eu achei esse conto um pouco engraçado.
Depois da Guerra vão nascer lírios nas pedras, grandes lírios cor de sangue, belas
rosas desmaiadas. Depois da Guerra vai haver fertilidade, vai haver natalidade, vai haver
felicidade. Depois da Guerra, ah meu Deus, depois da Guerra, como eu vou tirar a forra de
um jejum longo de farra! Depois da Guerra vai-se andar só de automóvel, atulhado de
morenas todas vestidas de short. Depois da Guerra, que porção de preconceitos vão
se acabar de repente com respeito à castidade! Moças saudáveis serão vistas pelas
praias, mamães de futuros gêmeos, futuros gênios da pátria. Depois da Guerra, ninguém
bebe mais bebida que não tenha um bocadinho de matéria alcoolizante. A coca-cola será
relegada ao olvido, cachaça e cerveja muita, que é bom pra alegrar a vida! Depois da
Guerra não se fará mais a barba, gravata só pra museu, pés descalços, braços nus.
Depois da Guerra, acabou burocracia, não haverá mais despachos, não se assina mais o
ponto. Branco no preto, preto e branco no amarelo, no meio uma fita de ouro gravada com o
nome dela. Depois da Guerra ninguém corta mais as unhas, que elas já nascem cortadas
para o resto da existência. Depois da Guerra não se vai mais ao dentista, nunca mais
motor no nervo, nunca mais dente postiço. Vai haver cálcio, vitamina e extrato hepático
correndo nos chafarizes pelas ruas da Cidade. Depois da Guerra não haverá mais Cassinos,
não haverá mais Lídices, não haverá mais Guernicas. Depois da Guerra vão voltar os
bons tempinhos do carnaval carioca com muito confete, entrudo e briga. Depois da Guerra,
pirulim, depois da Guerra, vai surgir um sociólogo de espantar Gilberto Freyre. Vai se
estudar cada coisa mais gozada, por exemplo, a relaÇão entre o Cosmos e a mulata.
Grandes poetas farão grandes epopéias, que deixarão no chinelo Camões, Dante e
Itararé. Depois da Guerra, meu amigo Graciliano pode tirar os chinelos e ir dormir a sua
sesta. Os romancistas viverão só de estipêndios, trabalhando sossegados numa casa na
montanha. Depois da Guerra vai-se tirar muito mofo de homens padronizados pra fazer
penicilina. Depois da Guerra não haverá mais tristeza: todo o mundo se abraçando num
geral desarmamento. Chega francês, bate nas costas do inglês, que convida o italiano
para um chope no Alemão. Depois da Guerra, pirulim, depois da Guerra, as mulheres
andarão perfeitamente à vontade. Ninguém dirá a expressão "mulher perdida",
que serão todas achadas sem mais banca, sem mais briga. Depois da Guerra vão se abrir
todas as burras, quem estiver mal de cintura, faz logo um requerimento. Os operários
irão ao Bife de Ouro, comerão somente o bife, que ouro não é comestível. Gentes
vestindo macacões de fecho zíper dançarão seu jiterburgue em plena Copacabana.
Bandas de música voltarão para os coretos, o povo se divertindo no remelexo do samba. E
quanto samba, quanta doce melodia, para a alegria da massa comendo cachorro-quente! O
poeta Schmidt voltará à poesia, de que anda desencantado e escreverá grandes livros.
Quem quiser ver o poeta Carlos criando, ligará a televisão, lá está ele, que homem
magro! Manuel Bandeira dará aula em praça pública, sua voz seca soando num bruto de um
megafone. Murilo Mendes ganhará um autogiro, trará mensagens de Vênus, ensinando o povo
a amar. Aníbal Machado estará são como um perro, numa tal atividade que Einstein
rasga seu livro. Lá no planalto os negros nossos irmãos voltarão para os seus clubes de
que foram escorraçados por lojistas da Direita (rua). Ah, quem me dera que essa Guerra
logo acabe e os homens criem juízo e aprendam a viver a vida. No meio tempo, vamos dando
tempo ao tempo, tomando nosso chopinho, trabalhando pra família. Se cada um ficar quieto
no seu canto, fazendo as coisas certinho, sem aturar desaforo; se cada um tomar vergonha
na cara, for pra guerra, for pra fila com vontade e paciência — não é possível!
esse negócio melhora, porque ou muito me engano, ou tudo isso não passa de um grande, de
um doloroso, de um atroz mal-entendido!
~~ Angel Yagami
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