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A Imobilidade

 O pátio esta quase caindo, coberto de gelo, aos pedaços. A neve cai sobre os presos, a traz das grades, dentro da prisão. Isso é sinal de que, entre eles, um, talvez mais, dois ou três, terão que dá fim a própria vida. E depois destes, as mulheres acham que mais uns oito ou nove deveram fazer o mesmo. A cela esta cheia e muitas crianças nascem quase todos os dias. As paredes estão frias e úmidas, porque os presos, reunidos num só grupo, quase não falam e, pressionados uns contra os outros, já não se movimentam a muito tempo. Antes, na janela, quando o sol aparecia, um a um, todo o conjunto era obrigado a se deslocar. Moviam-se no sentido anti horário, as vezes em espiral, igual as engrenagens de um relógio. Isso permitia que, por alguns segundos, cada um pudesse se aquecer um pouco no calor da manhã. Hoje infelizmente não há mais espaço. 


Todos ainda respiram. No entanto, alguém esta morto. Mais o homem morto, o filhote, eu mesmo, que planejou a fuga da prisão, e agora o mapa esta perdido, pois o corpo, seco e enrugado, foi cortado em três pedaços e atirando para fora, pela janela, do alto do sexto andar. O mapa? alguns conseguem ver, prensados contra a janela, uma folha de papel dentro da camisa do vermelho caído no jardim. Todos permanecem em silencio, em sinal de respeito. Com ou sem o mapa, hoje é dia de morte na família. Uma pessoa querida. Porém, existi outro plano. Pelo menos é no que todos acreditam a traz do prédio, no pátio quase caindo aos pedaços, uma escavadeira esta diante da parede do presidio, de uma maneira terrível: Imóvel. Não há movimento de nenhuma espécie, simplesmente porque o sinal das seis acabou de suar dentro da construção. Então, todos empregados desceram de seus lugares, apanharam suas coisas no armário, fecharam o portão de fora embora. Escavadeira ficou parada, a meio do caminho, entre a parede e o portão de saída. Não se move e, ao seu redor, uma inundação de jornal velho espalhado pelo vento percorre toda a construção algumas folhas prendem-se na alavancas da escavadeira e, prestes, interrompem o voo, enquanto a maioria continua pelo terreno, o sobre os muros, rumo à cidade. Todo esse movimento, no entanto, é inútil, sem sentido. As folhas soltas na atmosfera serve apenas para recordar a um dos presos, dentro da cela, que o engenhoso plano da escavadeira também pertencia ao velho morto, no jardim. Servem para recordar, também, que todo o novo plano esta anotado no verso do mapa.
 Dentro da camisa do velho. Isso, de certa forma, acaba criando uma situação insustentável. Na rua, homens e mulheres tropeçam nas folhas soltas, passam pela rua Rui Barbosa em direção ao centro, entram e saem das lojas, todos medidos num afazer qualquer. Na saída do trabalho, aos poucos, muitas pessoas vão chegando pela calçada, a pé. Mesmo sob a neve, o filho se aproxima no jardim do presídio, acompanhado dos tios, dos irmãos e da mãe, para render homenagens ao corpo do pai para aproxima-se de cabeça baixa, todos. Então, um grito rouco: -Marta. Mar-ta!
A mulher, no jardim, olha para cima. Ela não se chama marta. Todavia, pensa, pode ser que um conhecido seu, tendo esquecido seu verdadeiro nome, Ana, estivesse gritando um outro nome, um nome qualquer, na esperança de que ela, mesmo sabendo disso, olhasse para o alto, para lhe pedir um importante favor. No alto estão os presos. E o preso mais próximo da janela, meio congelado pelo contato com a grande, a ponta o corpo caído, gritando sempre, Mar-ta!, mais na verdade querendo dizer: Ana! -O nome verdadeiro da mulher. Outros presos, motivados pela súbita aproximação daquelas pessoas também começam a gritar: Ma-ar-coos! Ei, Ma-ar-coos! gritam dezenas de nomes, Marcos, Walter, Pedro, De um modo desesperado. Mais para, as vezes por falta de fôlego. E é, enquanto o grito não sai, respiram, quase ao mesmo tempo, esses inúteis consumidores de ar. A multidão, depois de algum tempo, passa a mão e não lhes prestar a menor atenção. Muito pelo contrário. Visivelmente desinteressados, todos começam a responder - A multidão responde, cada um gritando um nome, seu próprio nome, Solene, forte, cada qual a sua maneira, para se mesmo sozinho. Um exame de gritos sobre as flores geladas. Encontro isso, no jardim, a neve começa a cobrir o cadáver, pedaço por pedaço, e as pessoas vão se perdendo pela rua, pelas calçadas, pelos subterrâneos, aos gritos. Seguem, despertando o desinteresse geral - um milhão de pronomes, dentro do inferno quente e rarefeito do metrô.

- Nelson de Oliveira

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